Há quatro décadas, o Rio de Janeiro assistiu ao surgimento de um fenômeno que iria moldar profundamente o cenário criminal da cidade. O primeiro grupo paramilitar, originário em Rio das Pedras, Zona Oeste, nos anos 80, se apresentava como uma força de “proteção” contra o avanço do tráfico de drogas, proibindo o consumo de entorpecentes nas áreas sob seu controle.
À medida que o tempo passou, novos grupos paramilitares, como a “Liga da Justiça,” com princípios semelhantes, emergiram em diferentes regiões cariocas. No entanto, algo notável aconteceu: esses ex-rivais acabaram se aliando e estendendo seu domínio, formando verdadeiras “narcomilícias” que impõem medo e caos em comunidades inteiras.
Atualmente, é quase impossível distinguir as táticas e ações de milicianos daquelas de traficantes. Ambos cobram taxas pela “proteção,” controlam serviços essenciais, como fornecimento de água e gás, e, surpreendentemente, lucram com o tráfico de drogas.
Para entender esse fenômeno em detalhes, é crucial voltar no tempo e observar como tanto o tráfico quanto as facções criminosas se desenvolveram na cidade. O tráfico começou a se organizar nos anos 70 e, nos anos 80, enfrentava disputas internas. Nesse mesmo período, as facções criminosas surgiam nos presídios, promovendo uma mudança significativa no cenário criminal carioca.
Em contrapartida, nos anos 60, existiam as “polícias mineiras,” uma espécie de embrião das futuras milícias. Somente nos anos 2000, policiais e ex-policiais corruptos começaram a “oferecer segurança” nas comunidades, muitas vezes de forma violenta. As “taxas de proteção” eram apenas uma desculpa para exploração, estendendo-se para serviços como internet clandestina e distribuição de gás.
Hoje, com a expansão das milícias, estima-se que mais de 4 milhões de pessoas vivem em áreas controladas por grupos criminosos, um aumento de 65% em relação a 2006. As milícias ocupam cerca de metade do território dominado pelo crime organizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
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